quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Acordei

Acordei. Pensei em minha mãe.
Acordei e pensei: não tenho mãe!!
Cadê colo, abraço, beijo, cafuné, conversas, contar desejos?
Minha mãe foi mãe, dona de casa e mulher de marido: comida na mesa, portão aberto, chinelo na sala ao lado do sofá.
Seis filhas, foi mãe. Não escuta, não ouve, bastam os armários cheios de comida: pura alegria!
Servir, sufocar, se preocupar. Ela tem culpa? Como poderia? Do mandante marido passou para as mãos das mandantes filhas: obediente, assustada, sempre ouvindo tudo calada. Acordei sem mãe. Susto!
Meu pai era olhar, certeiro como flecha. Tínhamos medo até de sorrir.
Minha mãe foi e é tanque, pia e varal. Ansiosamente ansiosa, viciadamente vigia, sempre de pé e braços cruzados.
Dói acordar pra valer, me veio de repente na mente: me pergunta como estou! Preciso de outro tratamento e quando pra ela digo que estou com medo, escuto:
- Que bom, vai indo, né...
Disse à ela que a amava tempos depois que minha filha partiu. Estava frágil e desesperada. Hoje, não digo mais. Não tenho família, tenho agregados, vindos dos mesmos pais.
Seis mulheres, umas mais outras menos, pura angustia, ansiedade, falta de equilíbrio. Faltou colo, cafuné, beijo e atenção. Mas se meus pais nada disso tiveram, como poderiam dar?Tivemos comida, casa e muita briga.
Amo minha Mãe, pequena, frágil, sempre assustada, que deu o que pode e o que tinha para dar. Não tinha amor, não recebeu e não aprendeu a amar.
Amou como sabia e, sim, eu tenho mãe!!!

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